terça-feira, 11 de novembro de 2008

O enterro do S. Martinho

De véspera, foi o anúncio.
Percorreram a aldeia, funil na mão, para ampliar o veredicto.
Adoram acordar a gente!

S. Martinho

Hoje à noite decorreu o tão esperado enterro do S. Martinho. Uma tradição de origem pagã que foi recuperada há uns poucos de anos para cá.

Se nos anos anteriores elas faziam questão em não ir porque ficavam muito assustadas com a escuridão da noite (a iluminação pública é propositadamente desligada), com o choro das carpideiras ecoando pelas ruas e com o Requiem de Mozart como fundo musical, este ano a M. queria seguir o cortejo, onde a Irmandade costuma iluminar as ruelas com os seus archotes.
Atrás e deitado na padiola estava o S. Martinho, um boneco de palha vestido a preceito. Seguiu-se a representação do "sacerdote", o antigo sacristão da terra que foi largando deixas... e por vezes em latim!

A seguir a ele, iam as viúvas do S. Martinho, vestidas de preto como a noite, reforçando o drama, largando berros com o povo atrás rindo de tanto sarcasmo.

Após a longa caminhada pela povoação, já no Largo do Rossio da aldeia, o boneco foi pendurado.
As pessoas concentraram-se à volta do S. Martinho e pegaram-lhe o fogo.

As chamas ganharam forças. Os rostos iluminaram-se. Afinal, há sempre a gente da aldeia que saiu à rua para assistir e participar, perpetuando assim a tradição.

E não esqueçamos, no dia do S. Martinho come-se castanhas e prova-se o vinho!

6 comentários:

Virgínia disse...

Nunca assisti! Que mais sabes sobre essa tradição? Espero que não se perca!

♥ tm disse...

Que sorte viver numa vila que perpétua as tradições.....
:)

maman xuxudidi disse...

@ Virgínia - espero assim poder responder a tua pergunta:
"Antigamente, acrescentavam o (quase) sacrifício de um pobre gato que era metido dentro de um púcaro de barro e colocado por cima da fogueira. A dada altura, partia-se o púcaro e o desgraçado do bichano (quando ainda podia) “gritava” uns miados e desaparecia espavorido, perante o gáudio dos assistentes. Ritual cruel, sem dúvida, visto aos olhos de quem assim o entende. Porem, convém lembrar, em cerimónias colectivas, há alguns milhares de anos atrás, chegavam a sacrificar-se seres humanos, depois animais. Por fim, passaram a queimar bonecos (símbolos). O Cristianismo Católico trouxe, entretanto, as fogueiras da Inquisição ou do “Santo Ofício”, onde foram queimados, em público, milhares de seres humanos, acusados de “heresia”… E trouxe rituais religiosos que lhe são próprios. Hoje, olhando-se uma destas “procissões”, onde a acção decorre em torno da “encomenda” e do “enterro do S. Martinho”, já não se sabe qual dos ritos e rituais predominam. Se a Igreja Católica aproveitou, integrou e “reciclou” as práticas pagãs, por sua vez estas tradições que até nós chegaram, mostram que “reciclaram” e integraram rituais católicos."

Jano, Em Tradições Populares revisitadas Novembro 2002

@Tm - Vivo numa aldeia, cada vez mais pequena!

Luciano Lema disse...

ora aí está algo a que deve ser impressionante assistir!

Anónimo disse...

gosto de saber destas tradições.
espero que não desapareçam.

Virgínia disse...

Obrigada Diane. Realmente parece uma mistura de tradições. Vou procurar saber mais.
Abraço